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“Nunca é demais ser magro “ou “Magrérrima, ADORO!” Sara Sequeira.
Seria pouco afirmar que fiquei chocada com a magreza nos desfiles a que assisti. Sabem aquela sensação de não conseguir ver a beleza das roupas que iam passando na passerelle porque os nossos olhos insistiam em focar nas costelas visíveis, nos braços que teimam em ser pele e osso, nos mamilos visíveis sem qualquer volume?
Não consegui desfrutar, nem por segundos, da beleza das roupas que passavam. Nada! Ficava a imaginar o que teria sido o almoço delas, ou o jantar, ou se alguma vez tinham provado comida. Mas por que raio têm as modelos de seguir um padrão que dificilmente se encontra nas ruas e que gera tantos distúrbios alimentares em adolescentes?
Aquele é o padrão que a moda dita ser ideal. Um corpo sem curvas, quase inexistente e que quase ninguém atinge. E, no meio disto, os meus pensamentos iam sendo mais e mais, até me fazerem sentir uma certa revolta. Dei por mim a desejar sair dali. Na verdade, era um misto: por um lado, não me identificava minimamente com aquilo, e por outro, ambicionava um dia poder desfilar ao lado de corpos reais e quebrar todo aquele preconceito.
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“Nunca é demais ser magro” ou “Magrérrima, ADORO!” é um pouco isto nas agências. Só conseguia pensar na primeira vez que entrei numa agência de modelos e me pediram para emagrecer. Deram-me uma lista de alimentos que poderia ingerir: maçã e uma bolachinha de vez em quando.
Sabem aquela sensação de olharem ao espelho e sentirem-se bem com o vosso corpo? Eu era um 38, 1.70m e bolas…. Adorava o meu corpo. Não mudei e assumi uma postura de modelo plus-size, mas nem todas nós assumimos um compromisso de amor próprio, e caímos no erro de nos tornarmos máquinas formatadas em comer as poucas maçãs que podemos. Tornamo-nos prisioneiras de passerelle.
É exatamente isso que sinto ao ver um desfile sem diversidade de corpos. Pessoas presas a um regime ditatorial. Talvez seja por isso que em todos os desfiles os olhares das modelos são tristes. Talvez a própria passerelle transmita um certo aborrecimento a este “fascismo fashion”, afinal, as expressões faciais transmitidas são quase sempre de tristeza e de aborrecimento com a vida. Ninguém deveria admirar um desfile em que a subnutrição é um must e o preconceito um lema.
Tudo isto parece estar a mudar, vemos cada vez mais modelos com corpos diversos, embora ainda haja muito trabalho para mudar. Portugal ainda está muito atrasado em relação ao boom de lá fora. As agências já começam a aceitar mais diversidade de corpos e a tendência começa a fazer da passerelle um show de vários tipos de beleza. Esperemos que esta mudança venha para ficar!
Sara Sequeira, colunista Tomar TV
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