A presença de água sempre foi um fator de localização determinante para a fixação das populações. É assim que se explica a origem da nossa cidade, desde tempos muito remotos, como os constantes achados arqueológicos o têm provado. O facto de os templários também terem escolhido a nossa localização, obviamente que se prende com a riqueza hidrológica, bem como com a posição estratégica, em termos de defesa.
As águas do nosso rio Nabão estão assim na origem desta linda cidade, que ao longo dos tempos do mesmo foi beneficiando. As suas margens, várzeas do Nabão, sempre foram um recurso determinante para a prática da agricultura, com os seus terrenos férteis. As suas águas límpidas sempre garantiram uma grande riqueza piscícola, que durante a segunda metade do século XX justificaram inúmeros concursos de pesca e a existência em Tomar de alguns clubes de pesca. As paisagens em seu redor permitiram a tomarenses de várias gerações fazerem grandes convívios sociais, como os piqueniques que se realizavam no Açude de Pedra, como relatam com saudade as pessoas mais idosas. A importância que Tomar teve numa primeira fase industrial do nosso país, como foram as fábricas de papel da Matrena, Prado e Porto Cavaleiros, assim como a fábrica de Fiação, também deveram a sua existência à utilização das águas do Nabão.
Estes são fatores que permitem concluir que os momentos mais marcantes da história da nossa cidade estão umbilicalmente ligados ao rio Nabão. É por isso, com tristeza, que olhamos hoje para essas águas que outrora foram a alma dos tomarenses e verificamos que o respeito por elas está longe de existir. Pouco importa de quem é a culpa, já que o passado não se altera, é urgente encontrar soluções, objetivamente direcionadas para a origem do problema, pois nenhum cidadão do mundo pode olhar para o nosso rio, naqueles dias em que sofre atentados biológicos, sem no mínimo se arrepiar de frustração e de enorme revolta.
As querelas políticas devem ser colocadas de lado e a união de competências de muitos tomarenses com conhecimentos científicos, com capacidade empreendedora, com poder económico e estrategicamente bem colocados no mundo empresarial e político, devem finalmente produzir efeitos positivos, em prol da cidade que todos amam.
Num país onde os milhões permitiram criar quilómetros de autoestradas, hoje pouco frequentadas, pois os portugueses não têm capacidade económica para pagar as portagens, onde se construíram estádios de futebol, que hoje são verdadeiros “monstros” abandonados, possivelmente será possível conseguir “alguns” para resolver o problema do rio Nabão, que se arrasta e intensifica há vários anos. Quando se anuncia uma “bazuca”, será que não temos direito a umas “fisgas”.
Autoria: João Fernandes