Opinião. Vamos fazer o que ainda não foi feito!

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Tal como Pedro Abrunhosa exclama aos quatro ventos na música “Fazer o Que Ainda Não Foi Feito”, embora se trate de uma declaração de amor, não resisto a estender essa analogia à relação do governo com as empresas portuguesas — em especial, as do setor da carne.

O novo executivo iniciou funções — ou melhor, retomou-as, após uma breve suspensão para legitimar praticamente os mesmos protagonistas. Na sua tomada de posse, o primeiro-ministro prometeu combater a burocracia. Sim, senhor primeiro-ministro, é precisamente disso que o país precisa.

Mas como se combate uma cultura enraizada que atravessa os organismos públicos como uma herança imutável?

Permita-me a ousadia de partilhar alguns conselhos em nome de um Portugal mais forte. O primeiro passo é termos líderes verdadeiros — homens e mulheres com espírito de missão, dispostos a fazer o que nenhum governo teve coragem de fazer: erradicar a burocracia desnecessária que bloqueia a iniciativa privada e sabota a competitividade nacional face aos restantes estados-membros.

Essa mesma burocracia afasta investimento estrangeiro, frustrando empresas que apenas querem crescer num país de costumes brandos, boa gastronomia e gente de valor. Talvez sejamos brandos em demasia — talvez no falte a coragem.

As empresas do setor da carne vivem com medo dos organismos públicos. Temem represálias caso denunciem abusos ou ineficiências. Mesmo quando são maltratadas, preferem o silêncio à retaliação. Esta é a triste realidade do século XXI.

Há motivos para o medo. Há abusos. Há prejuízos. E há uma assustadora ausência de responsabilização por parte de quem devia liderar com justiça e visão.

Naturalmente, devemos reconhecer os muitos funcionários públicos que cumprem exemplarmente o seu dever — a esses, o nosso sincero agradecimento. Mas a maioria não compreende o impacto da sua ineficiência: travam empresas, travam a economia e travam o país.

Há ainda quem use o cargo público para exercer poder de forma abusiva, para intimidar empresários e trabalhadores, sem que superiores hierárquicos ponham cobro a esses comportamentos inadmissíveis, diria mesmo anticonstitucionais. E essa realidade precisa de ser dita, sem eufemismos.

Por isso, senhor primeiro-ministro, governantes e dirigentes: façam o que ainda não foi feito! Libertem os organismos públicos das amarras da burocracia inútil e promovam uma verdadeira cultura de colaboração com o setor privado.

Dispensem os que procuram apenas protagonismo. Promovam líderes que guiem as equipas com propósito, coragem e sentido de responsabilidade.

Chega de “não pode”!

Queremos “vamos ver como podemos”.

Portugal precisa de dirigentes que liderem de facto — com disciplina, com método e com empatia. Os técnicos superiores não podem decidir sozinhos. As decisões têm de ser tomadas por quem tem legitimidade, conhecimento e bom senso para tal.

Se Portugal quiser competir com os melhores, precisa de gente com conhecimento, experiência, bom senso e capacidade de liderança , ao leme!

E, por isso, termino como comecei: vamos fazer o que ainda não foi feito — porque amanhã… é tarde demais.

APIC, 19 de junho de 2025
Graça Mariano
Diretora executiva da APIC

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